sábado, 26 de janeiro de 2013


SONETO DE AMOR E ERRO




Não chores se em erro debruçada a vida
Pois de ímpeto morreram reis padecendo servos
Ambos visitados por equívocos que fizeram ida
Todos falhados, vitimados em pensamentos ternos

A falta criou sofrimento, fez renascer sentimento
Tudo se perdeu, o mundo chorou, e o valor floresceu
Maior seria a perda se ínfimo fosse o abrasamento
O erro transformado em dor regou o maior pudor, e venceu

Não temas o contemplar da verdade
Nem se furtes a encarar o rompante do erro gritante
Aprecie a fúria que fez brotar o branco da serenidade

Deixe crescer a rosa que rebrotou em esperança, o jardim
Provando que onde há amor jamais desistirá o perdão
E, aceitando o tocar dos dedos sim, estaremos juntos... até o fim.



E na contramão estará quem não aceitar que nascemos um pro outro sim

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013


O Amor

O amor, quando se revela, 
Não se sabe revelar. 
Sabe bem olhar p'ra ela, 
Mas não lhe sabe falar. 

Quem quer dizer o que sente 
Não sabe o que há de *dizer. 
Fala: parece que mente 
Cala: parece esquecer 

Ah, mas se ela adivinhasse, 
Se pudesse ouvir o olhar, 
E se um olhar lhe bastasse 
Pr'a saber que a estão a amar! 

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente 
Fica sem alma nem fala, 
Fica só, inteiramente! 

Mas se isto puder contar-lhe 
O que não lhe ouso contar, 
Já não terei que falar-lhe 
Porque lhe estou a falar.


Fernando Pessoa
 Se sou amado,
quanto mais amado
mais correspondo ao amor.

Se sou esquecido,
devo esquecer também,
Pois amor é feito espelho:
-tem que ter reflexo


Pablo Neruda

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A PRINCÍPIO ou
A FELICIDADE REALISTA
MARTHA MEDEIROS

De norte a sul, de leste a oeste, todo mundo quer ser feliz. Não é tarefa das mais fáceis. A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda  mais complexos.
Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos,sarados, irresistíveis. 
Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica, a bolsa Louis Vitton e uma temporada num spa cinco estrelas.
E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando.
Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário,queremos ser felizes assim e não de outro jeito.
É o que dá ver tanta televisão. Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista. Por que só podemos ser felizes formando um par e não como pares? Ter um parceiro constante, não é sinônimo de felicidade, a não ser que seja a felicidade de estar correspondendo a expectativas da sociedade, mas isso é outro assunto. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com parceiros, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio.
Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como  um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade.
Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar. É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o
que nos mobiliza, instiga e conduz mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um game onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo.
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Esse texto foi publicado originalmente na coluna "Almas Gêmeas" do Terra.
Como saiu do ar, só está disponível através desse site, mas fica com erros em alguns caracteres:

http://web.archive.org/web/20040220195847/almas.terra.com.br/martha/martha_08_01.htm
"Nesta vida pode-se aprender três coisas de uma criança . Estar sempre alegre , nunca ficar inativo e chorar com vontade pelo que se quer."


*dedicado a um grande amigo: Henrique Marinho
"Raros são aqueles que decidem após madura reflexão; os outros andam ao sabor das ondas e longe de se conduzirem deixam-se levar pelos primeiros."